PACTO NACIONAL PARA O FORTALECIMENTO DO ENSINO
MÉDIO
SECRETARIA EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SANTA CATARINA
6ª GERED – GERÊNCIA REGIONAL DE EDUCAÇÃO
ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA CARLOS CHAGAS
SONIA MARA VIERO
DA TEORIA À PRÁTICA PEDAGÓGICA
IPIRA, MAIO DE 2015
DA TEORIA Á PRÁTICA
Geni e Zepelim
(Chico Buarque de Holanda)
De tudo que é nego torto
Do mangue e do cais do porto
Ela já foi NAMORADA
O seu corpo é dos errantes
Dos cegos das retirantes
É de quem não tem mais nada
Dá-se assim desde menina
Na garagem na cantina
Atrás do tanque no mato
É a rainha dos detentos
Das loucas dos lazarentos
Dos moleques do internato
E também vai a miúde
Com os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Anda sempre a repetir
Joga pedra na Geni
Joga pedra na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela da pra qualquer um
Maldita Geni
Um dia surgiu brilhante
Entre as nuvens
flutuante
Um enorme zepelim
Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões
assim
A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta para virar geléia
Mas do zepelim gigante
Surgiu o seu comandante
Dizendo - mudei de ideia
- quando vi esta
cidade
- tanto horror e
iniquidade
- resolvi tudo
Explodir
- Mas posso evitar
o drama
- Se aquela
formosa dama
- Essa noite me
Servir
Essa dama é a Geni
Mas não pode ser Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa pra cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni
Mas de fato, logo ela
Tão coitada e tão singela
Cativara o forasteiro
O guerreiro tão vistoso tão
temido e poderoso
Era dela prisioneiro
Acontece que a donzela
E isso era segredo dela
Também tinha seus caprichos
E a deitar com homem tão nobre
Tão cheirando a brilho e a cobre
Preferia amar com os bichos
Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão
O prefeito de joelhos
O bispo de olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão
Vai com ele, vai Geni
Vai com ele, vai Geni
Você pode nos salvar
Você vai nos redimir
Você dá pra qualquer um
bendita Geni
Foram tantos os pedidos
Tão sinceros. Tão sentidos
Que ela dominou seu
asco
Nessa noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco
Ele fez tanta sujeira
Lambuzou a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu zepelim
prateado
Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir
Mas logo raiou o dia
A cidade em cantoria
Não deixou ela dormir
Joga pedra na Geni
Joga bosta na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa pra cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita
Geni. +
Numa perspectiva de focar o território da
linguagem, com interação, mediação e contextualização da vida real do
estudante, realizou-se um trabalho de reflexão e aprendizado cientifico a
partir de gêneros textuais na 2ª série do Ensino Médio. Definiu-se para tanto,
a canção e respectiva letra “Geni e Zepelim” de Chico Buarque de Holanda,
escrita na década de 70.
De acordo com pressupostos teóricos
do caderno IV do SISMÉDIO, o texto em evidência, possibilitou a revelação de
uma linguagem constitutiva da prática social. Um subsídio que levou ao pensar,
como propõe as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio – DCNEM (
Brasil, 2012) na disciplina de Língua Portuguesa e Literatura e que, de forma
interdisciplinar pôde provocar considerações das disciplinas de História,
Geografia, Sociologia e Filosofia. Esta proposta de atividade então, contempla
a pluralidade, os contextos e situações sociais e educativas de ontem e que
interagem com o hoje.
Tem-se a plena convicção que a aula
insere-se num processo de aprendizagem significativo e crítico, com a
participação efetiva dos sujeitos envolvidos – professor, aluno-sociedade. Já
que entende-se que uma prática educativa deve estar ligada aos conhecimentos e
saberes relativos as interações e às expressões do sujeito em práticas
socioculturais, que enfocam e representam o mundo do qual se faz parte, e, é na
escola que se tem a oportunidade e possibilidade da identidade de diferentes
grupos sociais, entre eles, àqueles que são discriminados, sofrem preconceitos
e vivem de forma degradante.
Constatou-se nas discussões em sala, que no texto
“Geni e Zepelim” há uma referência à identificação, conforme os
plurissignificados do texto, de exatos grupos sociais. Já que a letra da música
descreve em versos heptassílabos metrificados e rimados, a longa história que
define Geni, nossa personagem. Seu comportamento alheio às convenções da
sociedade, era vista então, como promíscua e imoral, assim, hostilizada pelo
povo da cidade em que vivia, porém diante de uma ameaça, acaba provisoriamente
sendo tratada de modo diferenciado pelos seus detratores. Passado o perigo,
retorna a ser excluída, o que revela o caráter moralista, oportunista e
hipócrita da sociedade. Refletiu-se diante desta situação, de que a elite, com
intuito de validar exclusivamente seus objetivos, tenta subjugar os setores
sociais marginalizados. Discurso da época e efetivamente válido nos dias
atuais.
Foi desta forma, que buscou-se propiciar e ampliar
possibilidades de acesso e saberes culturais, bem como a sua produção em
espaços variados. Observou-se os cenários urbanos e rurais de épocas diferentes
– ontem e hoje – contextualizou-se e problematizou-se, o que levou a
reconstrução de conceitos e impressões da sociedade atual. Ação que se
relaciona à aprendizagem e ao desenvolvimento humano, já que configura mundos e
realidade social.
Destaca-se ainda, que se produziu sentidos que
constituem visões de valores relacionados ao homem, conforme verifica-se
nas análises críticas e produções
textuais - poéticas dos alunos anexados a este artigo.
Num olhar atento a esta atividade pedagógica
efetivamente realizada em sala de aula, o caderno nº IV, item 2. Os sujeitos
estudantes do Ensino Médio e os direitos à aprendizagem e ao desenvolvimento
humano na área da Linguagem. p. 16 cita:
“ O
desenvolvimento da atividade educativa se dá no contexto da constituição subjetiva, mediante identidades
e práticas específicas, seus regulamentos, seus embates e acordos. Para que
esta atividade educativa faça sentido para esses sujeitos, eles precisam ser
contemplados em uma interação autêntica, onde haja espaço para opiniões,
debates e decisões.”
Aponta
ainda, agora o caderno II, da etapa I:
“Uma
das mais importantes tarefas das instituições educativas hoje, está em
contribuir para que os jovens possam realizar escolhas conscientes sobre suas
trajetórias pessoais e constituir os seus próprios acervos de valores e
conhecimentos não mais impostos como heranças familiares ou instituição.” (Brasil,2013,p.19)
É neste sentido, na análise do texto em referência,
que oportunizou-se um “ensino e aprendizagem”, consequente, já que mobilizou-se
um paralelo com a própria história de vida das pessoas, inclusive alunos, todos
inseridos na sociedade atual, os temas como: prostituição, miséria, burguesia,
época, ditadura militar, preconceito, lutas sociais fez-se presente nas
discussões. Houve um pensar na forma de inserção social e de construção de um
mundo igualitário e mais justo. Então, acesso ao saber, especificamente, à
leitura, à leitura de mundo, à produção de gêneros textuais variados. Prática
que viabilizou, sem dúvida, uma atividade educativa além do interdisciplinar,
ganhou um caráter transdisciplinar, pelo discurso crítico e participativo,
pelas reflexões e comparações, pelos questionamentos e pelas buscas de
respostas.
Diante do trabalho realizado constatou-se também
que o texto “Geni e Zepelim” é uma obra literária que se caracteriza em três
gêneros: canção, poema e narração. Reflete os anos 70, mas eminentemente é
contemporâneo, é perfeitamente do nosso tempo e provavelmente será de todos os
tempos, já que descreve um tecido social do ontem e do hoje, é arte na promoção
da justiça social.
Assim sendo, na área das linguagem se deu condições
de efetivar:
- problematização das relações, cultura, sociedade
e ambiente;
-pensamento emancipador;
-desenvolvimento de práticas refletidas e orientada
ao cuidado de si;
-à apropriação de estratégias de tratamento de
dados que viabilizam pensar a produção e a transformação do conhecimento e da
realidade;
-à atuação consciente no que concerne aos dilemas
da contemporaneidade que afetam a dignidade humana.
Como
sugere o caderno IV,p.20.
Desta forma, ressalto os dizeres:
“a
prática, a pedagogia e a filosofia da educação interagem com o contexto social,
histórico e cultural”. ( MONTE MOR,2011,P.315)
É
concludente que esta prática educativa além de transmitir conteúdos da
disciplina Língua Portuguesa e Literatura como conceitos básicos de tipologia
textual, composição formal de um poema ( versos, estrofes, rima e métrica)
abriu espaço para o ensino e a aprendizagem do educar para desenvolver o
humano, a ética, a cidadania então, a prática social.
Sonia Mara Viero
REFERÊNCIAS
CADERNOS
DA PRIMEIRA ETAPA DE FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFESSORES DO ENSINO MÉDIO –II e
IV.