quinta-feira, 14 de maio de 2015

DA TEORIA Á PRÁTICA/TEXTO CADERNOS REGIONAIS/SÔNIA M VIERO

PACTO NACIONAL PARA O FORTALECIMENTO DO ENSINO MÉDIO
SECRETARIA EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SANTA CATARINA
6ª GERED – GERÊNCIA REGIONAL DE EDUCAÇÃO
ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA CARLOS CHAGAS
SONIA MARA VIERO

DA TEORIA À PRÁTICA PEDAGÓGICA
IPIRA, MAIO DE 2015




DA TEORIA Á PRÁTICA

Geni e Zepelim
(Chico Buarque de Holanda)


De tudo que é nego torto
Do mangue e do cais do porto
Ela já foi NAMORADA
O seu corpo é dos errantes
Dos cegos das retirantes
É de quem não tem mais nada

Dá-se assim desde menina
Na garagem na cantina
Atrás do tanque no mato
É a rainha dos detentos
Das loucas dos lazarentos
Dos moleques do internato

E também vai a miúde
Com os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Anda sempre a repetir

Joga pedra na Geni 
Joga pedra na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela da pra qualquer um
Maldita Geni

Um dia surgiu brilhante
Entre as nuvens
flutuante
Um enorme zepelim
Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões
assim

A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta para virar geléia
Mas do zepelim gigante
Surgiu o seu comandante
Dizendo - mudei de ideia

- quando vi esta
   cidade
- tanto horror e
   iniquidade
- resolvi tudo
  Explodir
- Mas posso evitar 
  o drama
- Se aquela
  formosa dama   
- Essa noite me
   Servir

Essa dama é a Geni
Mas não pode ser Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa pra cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni

Mas de fato, logo ela
Tão coitada e tão singela
Cativara o forasteiro
O guerreiro tão vistoso tão temido e poderoso
Era dela prisioneiro

Acontece que a donzela
E isso era segredo dela
Também tinha seus caprichos
E a deitar com homem tão nobre
Tão cheirando a brilho e a cobre
Preferia amar com os bichos

Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão
O prefeito de joelhos
O bispo de olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão

Vai com ele, vai Geni
Vai com ele, vai Geni
Você pode nos salvar       
Você vai nos redimir
Você dá pra qualquer um
bendita Geni

Foram tantos os pedidos
Tão sinceros. Tão sentidos
Que ela dominou seu
asco
Nessa noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco

Ele fez tanta sujeira
Lambuzou a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu zepelim
prateado  

Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir
Mas logo raiou o dia
A cidade em cantoria
Não deixou ela dormir

Joga pedra na Geni
Joga bosta na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa pra cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni. +   














Numa perspectiva de focar o território da linguagem, com interação, mediação e contextualização da vida real do estudante, realizou-se um trabalho de reflexão e aprendizado cientifico a partir de gêneros textuais na 2ª série do Ensino Médio. Definiu-se para tanto, a canção e respectiva letra “Geni e Zepelim” de Chico Buarque de Holanda, escrita na década de 70.
            De acordo com pressupostos teóricos do caderno IV do SISMÉDIO, o texto em evidência, possibilitou a revelação de uma linguagem constitutiva da prática social. Um subsídio que levou ao pensar, como propõe as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio – DCNEM ( Brasil, 2012) na disciplina de Língua Portuguesa e Literatura e que, de forma interdisciplinar pôde provocar considerações das disciplinas de História, Geografia, Sociologia e Filosofia. Esta proposta de atividade então, contempla a pluralidade, os contextos e situações sociais e educativas de ontem e que interagem com o hoje.
            Tem-se a plena convicção que a aula insere-se num processo de aprendizagem significativo e crítico, com a participação efetiva dos sujeitos envolvidos – professor, aluno-sociedade. Já que entende-se que uma prática educativa deve estar ligada aos conhecimentos e saberes relativos as interações e às expressões do sujeito em práticas socioculturais, que enfocam e representam o mundo do qual se faz parte, e, é na escola que se tem a oportunidade e possibilidade da identidade de diferentes grupos sociais, entre eles, àqueles que são discriminados, sofrem preconceitos e vivem de forma degradante.
Constatou-se nas discussões em sala, que no texto “Geni e Zepelim” há uma referência à identificação, conforme os plurissignificados do texto, de exatos grupos sociais. Já que a letra da música descreve em versos heptassílabos metrificados e rimados, a longa história que define Geni, nossa personagem. Seu comportamento alheio às convenções da sociedade, era vista então, como promíscua e imoral, assim, hostilizada pelo povo da cidade em que vivia, porém diante de uma ameaça, acaba provisoriamente sendo tratada de modo diferenciado pelos seus detratores. Passado o perigo, retorna a ser excluída, o que revela o caráter moralista, oportunista e hipócrita da sociedade. Refletiu-se diante desta situação, de que a elite, com intuito de validar exclusivamente seus objetivos, tenta subjugar os setores sociais marginalizados. Discurso da época e efetivamente válido nos dias atuais.
Foi desta forma, que buscou-se propiciar e ampliar possibilidades de acesso e saberes culturais, bem como a sua produção em espaços variados. Observou-se os cenários urbanos e rurais de épocas diferentes – ontem e hoje – contextualizou-se e problematizou-se, o que levou a reconstrução de conceitos e impressões da sociedade atual. Ação que se relaciona à aprendizagem e ao desenvolvimento humano, já que configura mundos e realidade social.
Destaca-se ainda, que se produziu sentidos que constituem visões de valores relacionados ao homem, conforme verifica-se nas  análises críticas e produções textuais - poéticas dos alunos anexados a este artigo.
Num olhar atento a esta atividade pedagógica efetivamente realizada em sala de aula, o caderno nº IV, item 2. Os sujeitos estudantes do Ensino Médio e os direitos à aprendizagem e ao desenvolvimento humano na área da Linguagem. p. 16 cita:
“ O desenvolvimento da atividade educativa se dá no contexto da   constituição subjetiva, mediante identidades e práticas específicas, seus regulamentos, seus embates e acordos. Para que esta atividade educativa faça sentido para esses sujeitos, eles precisam ser contemplados em uma interação autêntica, onde haja espaço para opiniões, debates e decisões.”
           

Aponta ainda, agora o caderno II, da etapa I:
“Uma das mais importantes tarefas das instituições educativas hoje, está em contribuir para que os jovens possam realizar escolhas conscientes sobre suas trajetórias pessoais e constituir os seus próprios acervos de valores e conhecimentos não mais impostos como heranças familiares ou instituição.” (Brasil,2013,p.19)
É neste sentido, na análise do texto em referência, que oportunizou-se um “ensino e aprendizagem”, consequente, já que mobilizou-se um paralelo com a própria história de vida das pessoas, inclusive alunos, todos inseridos na sociedade atual, os temas como: prostituição, miséria, burguesia, época, ditadura militar, preconceito, lutas sociais fez-se presente nas discussões. Houve um pensar na forma de inserção social e de construção de um mundo igualitário e mais justo. Então, acesso ao saber, especificamente, à leitura, à leitura de mundo, à produção de gêneros textuais variados. Prática que viabilizou, sem dúvida, uma atividade educativa além do interdisciplinar, ganhou um caráter transdisciplinar, pelo discurso crítico e participativo, pelas reflexões e comparações, pelos questionamentos e pelas buscas de respostas.
Diante do trabalho realizado constatou-se também que o texto “Geni e Zepelim” é uma obra literária que se caracteriza em três gêneros: canção, poema e narração. Reflete os anos 70, mas eminentemente é contemporâneo, é perfeitamente do nosso tempo e provavelmente será de todos os tempos, já que descreve um tecido social do ontem e do hoje, é arte na promoção da justiça social.
Assim sendo, na área das linguagem se deu condições de efetivar:
- problematização das relações, cultura, sociedade e ambiente;
-pensamento emancipador;
-desenvolvimento de práticas refletidas e orientada ao cuidado de si;
-à apropriação de estratégias de tratamento de dados que viabilizam pensar a produção e a transformação do conhecimento e da realidade;
-à atuação consciente no que concerne aos dilemas da contemporaneidade que afetam a dignidade humana.
Como sugere o caderno IV,p.20.       
            Desta forma, ressalto os dizeres:
“a prática, a pedagogia e a filosofia da educação interagem com o contexto social, histórico e cultural”. ( MONTE MOR,2011,P.315)
É concludente que esta prática educativa além de transmitir conteúdos da disciplina Língua Portuguesa e Literatura como conceitos básicos de tipologia textual, composição formal de um poema ( versos, estrofes, rima e métrica) abriu espaço para o ensino e a aprendizagem do educar para desenvolver o humano, a ética, a cidadania então, a prática social.
                                                                                        Sonia Mara Viero





REFERÊNCIAS

CADERNOS DA PRIMEIRA ETAPA DE FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFESSORES DO ENSINO MÉDIO –II e IV.





























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